quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O medo causado pela inteligência

Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estréia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembléia de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal: - “Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante nesse seu primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável! Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta.”

Ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio podia dar ao pupilo que se iniciava numa carreira difícil. Isso, na Inglaterra. Imaginem aqui, no Brasil! Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa: ”Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que às vezes fico pensando que a burrice é uma ciência.”

A maior parte das pessoas encasteladas em posições políticas é medíocre e tem um indisfarçável medo da inteligência. Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista de posições. Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos displicentes que não revelam o apetite do poder. Mas, é preciso considerar que esses medíocres ladinos, oportunistas e ambiciosos, tem o hábito de salvaguardar suas posições conquistadas com verdadeiras muralhas de granito por onde talentosos não conseguem passar. Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas estabelecidas, as panelinhas do arrivismo, inexpugnáveis legiões dos lúcidos.

Dentro desse raciocínio, que poderia ser uma extensão do “Elogio da Loucura”, de Erasmo de Rotterdam, somos forçados a admitir que uma pessoa precisa fingir-se de “burra” se quiser vencer na vida. É pecado fazer sombra a alguém até numa conversa social. Assim como um grupo de senhoras burguesas bem casadas, boicota automaticamente a entrada de uma jovem mulher bonita no seu círculo de convivência, por medo de perder seus maridos, também os encastelados medíocres se fecham como ostras, à simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar.

Eles conhecem bem as suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com um pé nas costas...enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem problemas, os medíocres os repudiam para se defender.

É um paradoxo angustiante!

Infelizmente, temos de viver segundo essas regras absurdas que transformam a inteligência numa espécie de desvantagem perante a vida. Como é sábio o velho conselho de Nelson Rodrigues... “Fingi-te de idiota, e terás o céu e a terra”.

O problema é que os inteligentes gostam de brilhar!

Que Deus os proteja então dos medíocres!

Um comentário:

  1. Meus parabéns pela visão perfeitamente redigida de um padrão doentio e enraizado no meio moderno.

    É com grande pesar que venho na obrigação de concordar com tais palavras, afinal se for visto de modo geral poucos são os criativos que desafiam o mar de mediocridade que os cercam e tem forças o suficiente pra não sucumbir.

    O brilhantismo dá lugar à exaustão, é inútil ter grandes idéias e expor suas habilidades sendo que a grande 'massa' prefere que você diminua e não ofusque a posição que lhes foi obtida por formas bem menos gloriosas.

    Sad but true.

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